quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Maria vai com as outras...


Trechinho sobre pessoa sem decisão própria...Maria vai com as outras

Ela não queria sair agora, mas também não queria ficar, não sabia o que queria, como nunca soube.

Incrível a facilidade que algumas pessoas tinham de influenciá-la. Incrível como diante de algumas sugestões ela nunca a dela.

Sentada em seu sofá verde esmeralda (que não foi ela que escolheu) lembrava-se do tempo de escola.

Nunca teve vontade de ir naquela boate que frequentava. Mas suas amigas queriam ir...

Nunca escolheu o cara que queria ficar, suas amigas sempre faziam essa escolha por ela...

Sua mãe comprava suas roupas, seus sapatos, suas peças intimas...

Não escolheu namorar, seu pai escolheu ...

Não escolheu a data de seu casamento sua sogra escolheu isso...

Não escolheu seu vestido de noiva, sua irmã mais velha que escolheu ...

Não escolheu ficar grávida, seu marido quis assim, aliás foi seu marido também que escolheu o nome das crianças...

Naquelas alturas a dor que sentiu em abrir mão de suas vontades deu lugar a uma crise de riso incontrolável, ria muito ao pensar na boate horrível que frequentava, nos caras sem sal que ficara, nas roupas e peças intimas ultrapassadas que sua mãe lhe comprara, no péssimo namorado e futuro marido que o pai escolhera, na  pior data possível para um casamento que a sogra escolheu, véspera de sexta-feira santa, Meu Deus, que data foi essa? Apenas porque neste dia a mesma completava 30 anos de casado, a pobre teve que ter um casamento em um dia em que nada é comemorado. E aquele vestido de noiva então? O que eram aquelas mil flores pendurados, ela parecia um buquê ambulante, e ficar grávida com 21 anos então? Não, nunca foi o que ela queria. E o cúmulo mesmo foi os nomes escolhidos pelo seu esposo, Madona Lauriane Santos para a menina e Elvis Presley Santos para o menino...

PIOR ESCOLHA POSSIVEL!

Porém de certa forma economizou dor de cabeça, porque não gostava de pensar, pensar é difícil, pensar cansa demais. E agir então, mais ainda.

Talvez por isso não conseguia amar seus filhos, isso soava muito cruel, mas era a dura realidade.

Ela queria amá-los, mas era mais forte do que ela.

Seu sonho era ser atriz, queria ter ido embora para São Paulo e não viver o resto de sua vida naquele fim de mundo que vivia. Queria ter casado no dia de Nossa Senhora Aparecida, com algum ator global, com um vestido de renda nas costas e alguns detalhes de perolas no bojo, queria ter apenas um filho o qual se chamaria Manoel, em homenagem a seu avô, queria tantas coisas, tantas coisas, tantas coisas, mas nunca conseguiu lutar pelo que queria, era bem mais fácil seguir ordens, atender desejos dos outros do que dela mesmo. Ria de tudo isso, era tão fácil sorrir quando estava sozinha, um riso tão leve, tão solto, tão sofrido, um riso sofrido...

Mas um dia ela iria, um dia ela arrumaria suas malas e fugiria para São Paulo, um dia ela seria tudo aquilo que sempre sonhou, faria tudo que sempre quis fazer. Sabia disso!

Mas enquanto esse dia não chega, ela iria abrir a 2º garrafa de vodka, sentada naquele sofá verde esmeralda horrível e esperaria seu marido chegar e lhe dizer mais uma vez que ela não prestava para nada, que era uma bêbada feia e gorda, cansada de tudo que ouviria ela iria dormir, para quem sabe assim, pelo menos no sonho, viver a vida que sempre quis.

Afinal, ela não escolheu se tornar alcoólatra, os outros escolheram por ela!


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