E assim ela chegava, com
aquela cara sempre amarrada, infeliz com a vida que levava, infeliz com ela
mesma.
Perdera a mãe cedo, o pai
logo trouxe outra mulher para tentar substituir do vazio que ficara.
Mal sabia ele que com isso o
vazio só aumentara, porque depois além de perder a mãe, perdera o pai também.
Mas o pai foi pior, perdeu ele, mesmo ele estando presente.
Aquela mulher, ah como ela
detestava aquela mulher, ela escondia os biscoitos que para ela e o irmão não
pudesse comer, ela deixava a comida esfriar para chamá-los para comer, em uma
época que não tinha micro-ondas.
Ah que falta fazia a mãe.
Devido a inúmeros mal tratos
a pobre saiu cedo de casa, substituindo a falta que o pai fez por um marido de
muito mais do dobro da idade dela. A idade do pai que sempre foi ausente.
Ela no auge da juventude,
linda, com olhos amendoados, um cabelo perfeito, um corpo curvilíneo que
chamava atenção de qualquer um na rua, condenada a viver com um senhor, com
rugas, com programas de gente mais velha, com amigos mais velhos. E assim a
pobre vivia dia após dia, aquela vida que não foi a que ela sonhou, sofrendo a
falta da mãe, o carinho do pai e a falta de um moço como ela, que comeria
brigadeiros e beberia cervejas no café da manhã, um moço que seria cobiçado na
rua, um moço que iria querer se casar na igreja, vê-la de noiva, um marido que
iria querer ter filhos.
Infelizmente a vida fez com
que desviasse do caminho que seria melhor ter seguido.
Infelizmente jamais
conheceria o gosto de ser jovem e aproveitar a juventude. Infelizmente não
poderia saber o que é ser mãe, infelizmente não pôde saber o que é crescer com
uma mãe ao lado.
Doía nela pensar no caminho que seguia, a vida foi dura com ela e agora
ela é dura com os outros.
Não
distribui sorrisos
Não distribui simpatia
Não distribui bom humor.
As pessoas olham para ela
com indignação, como pode ser tão mal humorada? Algumas com medo, será que ela
vai me xingar hoje? Algumas a consideram estranha demais...
Mal sabem elas o que a pobre
passou...
Mal sabem elas o que passa
todos os dias...
Estranha são as pessoas que
a olham com estranheza, é preciso ser simpática sempre, agradar aos outros e
estar sempre bem humorada? Não, não é. O
ideal seria isso, mas todos temos dificuldades na vida e nem sempre sabemos
lidar com elas.
E assim encerrando mais um
dia de trabalho, lá ia ela com aquela cara sempre amarrada, infeliz com a vida
que levava, infeliz com ela mesma.