domingo, 10 de fevereiro de 2013

Infeliz ou estranha?



E assim ela chegava, com aquela cara sempre amarrada, infeliz com a vida que levava, infeliz com ela mesma.

Perdera a mãe cedo, o pai logo trouxe outra mulher para tentar substituir do vazio que ficara.

Mal sabia ele que com isso o vazio só aumentara, porque depois além de perder a mãe, perdera o pai também. Mas o pai foi pior, perdeu ele, mesmo ele estando presente.

Aquela mulher, ah como ela detestava aquela mulher, ela escondia os biscoitos que para ela e o irmão não pudesse comer, ela deixava a comida esfriar para chamá-los para comer, em uma época que não tinha micro-ondas.

Ah que falta fazia a mãe.

Devido a inúmeros mal tratos a pobre saiu cedo de casa, substituindo a falta que o pai fez por um marido de muito mais do dobro da idade dela. A idade do pai que sempre foi ausente.

Ela no auge da juventude, linda, com olhos amendoados, um cabelo perfeito, um corpo curvilíneo que chamava atenção de qualquer um na rua, condenada a viver com um senhor, com rugas, com programas de gente mais velha, com amigos mais velhos. E assim a pobre vivia dia após dia, aquela vida que não foi a que ela sonhou, sofrendo a falta da mãe, o carinho do pai e a falta de um moço como ela, que comeria brigadeiros e beberia cervejas no café da manhã, um moço que seria cobiçado na rua, um moço que iria querer se casar na igreja, vê-la de noiva, um marido que iria querer ter filhos.

Infelizmente a vida fez com que desviasse do caminho que seria melhor ter seguido. 

Infelizmente jamais conheceria o gosto de ser jovem e aproveitar a juventude. Infelizmente não poderia saber o que é ser mãe, infelizmente não pôde saber o que é crescer com uma mãe ao lado.

Doía nela pensar no caminho que seguia, a vida foi dura com ela e agora ela é dura com os outros.

Não distribui sorrisos

Não distribui simpatia

Não distribui bom humor.

As pessoas olham para ela com indignação, como pode ser tão mal humorada? Algumas com medo, será que ela vai me xingar hoje? Algumas a consideram estranha demais...

Mal sabem elas o que a pobre passou...

Mal sabem elas o que passa todos os dias...

Estranha são as pessoas que a olham com estranheza, é preciso ser simpática sempre, agradar aos outros e estar sempre bem humorada?  Não, não é. O ideal seria isso, mas todos temos dificuldades na vida e nem sempre sabemos lidar com elas.

E assim encerrando mais um dia de trabalho, lá ia ela com aquela cara sempre amarrada, infeliz com a vida que levava, infeliz com ela mesma.


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