quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Ainda há tempo



Eles se amaram durante os anos 60, a família dela não aceitava o relacionamento, romperam.
Ele se casou com outra mulher, ela também constituiu família, ambos tiveram filhos, mas continuaram se amando. Até o dia em que ambos viúvos se reencontraram, olhos murchos, enrugados, rostos cansados, mas  coração batia e muito mais forte devido aquele encontro, e quando os olhos se encontraram voltaram à 40 anos atrás, promessas e planos de um recomeço, lembranças de um passado ainda vivo para eles. Para o amor não existe tempo.

E então sentada no café como combinado, lá estava ela esperando seu amado, pronta para viver o que o mundo estava permitindo. Cumprir as promessas e finalmente colocar os planos em prática.

Promessas e planos interrompidos por um ataque cardíaco que o tirou da vida dela definitivamente.

Ah se ela pudesse voltar no tempo...
                              ***  
Ela tivera 3 filhos dos quais um sempre apresentou problemas, deu trabalho na escola, deu trabalho na adolescência, encontrou o álcool ainda jovem e a atormentava com as inúmeras dívidas que chegavam na casa todos os dias. Fingir que só tinha dois filhos era a única opção no momento, mudar de cidade era a solução.

Porém em 10 anos não tivera um dia em que não pensava naquele filho que deixara para trás. Nos dias das mães que passaram aquele era o abraço que faltava. Nas festas de família aquela era a risada que precisava ouvir. O amava tanto, não entendia onde foi que errou. Mas ali naquele lugar gelado, olhando seu filho agora sem vida, tão sereno quanto pequeno quando o embalava nos braços. Olhando aquelas mãos cheias de machucados lembrou-se de quando ele se machucava e pedia que ela o beijasse para sarar, as lágrimas corriam sem seu rosto, nunca imaginou estar em um lugar assim, reconhecendo o corpo do filho. Não queria que isso tivesse acontecido, queria ter ajudado.

Ah se ela pudesse voltar no tempo...

                                                                         ***
Olhando a foto com sua mãe, a única que sobrara, as lembranças vinham à tona. Não falava com sua mãe a 15 anos, desde que quando por uma briga “boba” saiu de casa e foi “viver” a vida. Construiu sua carreira, casou, e quando agora grávida e cheia de dúvidas precisava tanto de sua mãe, descobriu por telefone que fazia seis anos que sua mãe foi encontrada sem vida em casa, sozinha, afundada em uma profunda depressão. 

Como ela fora ingrata com aquela mulher que a gerou, a protegeu e criou, a amou, e se um dia aquele ser que ela carregava no ventre fizesse a mesma coisa não suportaria também. 

Tudo o que mais queria era sua mãe participando desses momentos em sua vidas. As lágrimas vinham involuntariamente. O coração dela doía.
Ah se ela pudesse voltar no tempo...


Quem são elas?!

Elas são nós, pessoas, seres humanos, nem sempre tão humanos, cegos pelas nossas próprias verdades esquecemos de amar mais e exigir menos. 

Brincar com seu filho quando ele disputa sua atenção com a novela das 21:00. 

Honrar pai e mãe, esses seres tão abençoados que Deus nos cedeu por um tempo. Quisera eu que fossem eternos!

Ajudar o próximo que tanto grita por nossa ajuda, viver mais, trabalhar menos, lutar pelo o que queremos, mesmo quando não acreditam em nós. Deixar medos de lado e aproveitar todos os segundos do lado daqueles que amamos.

Queridos, não sabemos quanto tempo temos aqui. Não sabemos quando tempo tem aqueles que amamos.

Portanto viva, aproveite, ame, arrisque, Seja feliz!!!!!!


Não queira que a vontade de voltar no tempo faça parte da sua vida, pois certamente irá doer, saber que já não tem volta, que o tempo ah o tempo não volta mesmo!!!!!

Mas hoje?! Hoje ainda há tempo!



                                    (última foto: Indianara Santos)

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