O chato
Ele estava cansado de saber tudo, de
saber muito e de não saber nada!
Quisera ele ter a cabeça vazia, a alma
mais leve e o coração transbordando alegria.
Quisera ele que aquele saber
exagerado, aquela vontade louca de ler 300 livros no feriado
fosse dar uma
volta, uma voltinha de 15.000 Km de distância, com passagem só de ida.
Seus olhos fixavam o espelho e seus
lábios questionavam:
Quem é você?
Nada de errado nisso, quantas pessoas
já se questionaram isso em frente ao espelho.
Aquela sensação de vazio misturava-se
com uma sensação de sufoco.
O que ele tinha por trás daquele olhar
inquietante? Porque as pessoas o evitam?
Ele aprendera com os pais, que ser
inteligente é algo para poucos, e que os privilegiados tem muito sucesso na
vida. Que quanto mais você sabe mais bem sucedido você será.
Porém eles nunca explicaram que para
tudo tem-se limites. Que saber tudo nem sempre é o mais importante. Que muitas
vezes estar errado ajuda a apimentar a nossa vida. Que ler todo o jornal
pulando as páginas de entretenimento ajuda a colorir o mundo de cinza, que
assistir apenas coisas interessantes, faz você perder o interesse pela vida.
Que
quando alguém come uma maçã na sua frente a pessoa não quer saber a origem da
maça, quantas calorias você está consumindo, o que pode-se fazer com a casca,
quais os países que não tem plantação da fruta. Que nem todo mundo se interessa
pelo que você se interessa. E que se alguém não perguntar alguma coisa é porque
ela não quer saber.
Que esquecer os prazeres da vida ajuda você esquecer quem
você é. Qual a sua essência. Que não será lendo todos os livros do mundo que
aparecerão em sua vida uma esposa, dois filhos e um cachorro.
Que fazendo tudo isso você se tornará
um grande conhecedor, mas um Chato com C maiúsculo.
Desconhecia tudo isso...
Seus cabelos não paravam no lugar,
passando mais meio pote de gel, dividindo seus cabelos cuidadosamente no meio
tinha conseguido chegar na perfeição de penteado de esperava.
Aquele penteado de anos, aqueles
mesmos óculos bifocais, aquela mesma poltrona e aquela mesma vontade de mudar.
Sentado na varanda, olhando as pessoas
na boate lá embaixo, todas arrumadas, animadas, felizes, mas não estavam
aprendendo nada ali... Aprendendo nada???
Não isso ele não queria.
Seus livros o chamavam, a vontade de
mudar desaparecera, e então pegando seus 300 livros e sentando na poltrona o
chato começava o seu feriado.
Aprendendo nada mais nada menos de
como ser um chato por toda a vida!
Mas feliz de sua maneira!
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