Novamente
aquele sonho, novamente aquele aperto no peito.
Ouvindo
sua angústia sua mulher acariciando-o os cabelos lhe questiona com voz doce se
está tudo bem...
Quanta
ironia! Como pode estar tudo bem, se a mulher com quem divide a cama não é a
mulher que tanto ama, não é a mulher que tanto amou. Não é aquela com quem sonha todas as noites.
Ah
aquela mulher, aquela sim representava a classe feminina com merecimento, era
linda, querida, sabia cozinhar, não era ciumenta, para completar era muito
inteligente e mais que isso se amava acima de qualquer coisa.
Hoje
em dia é muito difícil encontrar uma mulher que se ama, a maioria vive em busca
de alguém para não ficar sozinha, são grudentas, desconfiadas e possessivas.
Mas ela não.
Ah
Meu Deus como ela era diferente...
Dominava
todos os assuntos, sabia a hora de calar-se, seus cabelos eram muito mais
macios e cheirosos que o normal, era louca por livros e cozinhava como ninguém.
Suas mãos tão delicadas e lisinhas, seus olhos sempre querendo dizer algo, ah
que Olhos! Aquele jeitinho de menina por fora, mas uma grande mulher por
dentro. Possuía um entendimento tão grande sobre as coisas, amava e respeitava
sua família, respeitava o próximo, tinha um coração gigante. Tinha sim seus
momentos de ira, brigava quando necessário e era uma lástima vê-la chorando. Mas
o sorriso dela, nossa o sorriso mais lindo que ele conhecera.
Lembrava-se
de como eram prazerosos os momentos com ela, e sentindo aquele aperto no peito
lamentou não ter oferecido mais tempo a ela. Lembrou-se da noite que se
conheceram, uma noite em que nada estava para dar certo, onde ele não iria
estar presente, ela também não, onde a chance de se cruzarem em uma festa cheia
como aquela era de 1%, mas não é que aconteceu? Seus olhares se cruzaram e logo
após a primeira investida nela ele soube que beijaria aqueles lábios. E depois
daquele dia a paixão em ambos aumentava, ela era sempre tão prudente, mas dessa
vez não, se entregava cada vez mais aquele romance, ele como bom conquistador
abria mão de alguns affair que tinha antes de conhecê-la. Tudo acontecia às
avessas. Não seguiam padrões, não pensavam no amanhã.
Os
meses passavam a paixão aumentava, não entendia como isso podia ser possível. A
vontade de se ver aumentava, as ligações não paravam.
E
vasculhando suas lembranças, forçava a lembrança sobre o término, como pode um
amor tão bonito, tão fogoso e forte ser interrompido por dificuldades da vida que
ele não soube administrar. Como pode algo que tinha tudo para dar certo acabar
por medo, insegurança e incerteza?
Ela
só queria mais tempo, ela só queria finais de semanas com ele, almoço em
família e cinema de vez em quando. Ele poderia ter dado, mas não quis. Pensou
que não a perderia mas a perdeu...
E
hoje depois de 12 anos sem ter noticias nenhuma dela, sem saber se casou, teve
filhos, se mudou, como está, se continua bela ou não, sonha todas as noites com
ela, com os momentos que viveram, com a paixão que sentiram e que ele ainda
sente, hoje mesmo depois de casado, mesmo com filhos, se questiona como seria
se a reencontrasse, sabe que não ficariam juntos, pois se bem lembra os valores
dela jamais se envolveria com um homem casado, mesmo que divorciado.
Mas queria
poder vê-la de novo, abraçar-lhe e sentir o corpo dela bem pertinho do dele,
sentir o coração dela como sentia quando estavam juntos, queria poder olhar nos
olhos dela e sentir-se amado como sentia quando ela o olhava, queria poder sentir
o cheiro dela e tocar-lhe os cabelos.
Queria muitas coisas com ela, ah só ele
sabia o quanto queria... Mas agora era tarde, ela também deveria estar casada,
ela provavelmente também já era mãe...
Virando-se
para a esposa (aquela que ele não amava, mas que até que era boazinha) deu-lhe
um beijo na testa (assim como Judas quando traiu Jesus) dizendo-lhe apenas que
havia tido um pesadelo, um pesadelo sem importância.
Sem
importância, mas que iria atormentá-lo todos os dias de sua vida.
Enquanto
aquele amor não terminasse, enquanto aquele amor não fosse resolvido, enquanto
aquele amor deixasse de ser amor e virasse apenas boas lembranças do passado.
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