segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Aquela que preferia não saber

Em meio as lágrimas daquele dia, entre uma e outra garrafa de vinho que abria, lembrava-se dela menina.

Tão doce e encantadora, lembrava do seu vestido de tafetá o que a mãe havia mandando fazer sob medida para ela, ah lembrava-se de sua mãe, como queria que ela estivesse ali com ela neste momento.

Lembrava-se das suas sardinhas, aquelas que tanto detestava. Mas que muitos pareciam gostar.

Lembrava de seus colegas, de como ela sempre conseguia ser o centro das atenções, talvez seus cabelos vermelhos ajudaram, ou quem sabe a facilidade de apresentar trabalho de escola.

Lembrava-se dela sendo líder do time de torcida, sendo a menina mais cobiçada da escola. Lembrava-se do A que recebeu no vestibular, do inicio da faculdade, como tudo era perfeito em sua vida. 
A família, os amigos a Vida!

Tentava descobrir em que ponto da sua vida tudo mudou? Quando foi que começou a tomar anti depressivos, quando foi que se viciou neles? Quando foi que começou a misturar com álcool em uma tentativa insana de acabar com aquele sofrimento que a consumia por longos anos.

Queria não saber o motivo, mas era praticamente impossível.

Pedro, com certeza Pedro foi o responsável. Com aqueles cabelos cacheados e aquela boca encantadora virava a cabeça que qualquer menina, inclusive a dela.

Aquela maneira encantadora de falar, aquela voz enlouquecedora, aquelas mãos quando incansavelmente mexiam nos cabelos pretos. Aquela prepotência ao se apresentar. Aquela certeza de que conseguia tudo o que conseguia, aquela maneira de conseguir!

Ela que sempre foi tão auto suficiente de repente se viu apaixonada, perdidamente apaixonada, de uma maneira que nunca havia pensando estar.

E as coisas foram acontecendo, os sentimentos foram aumentando, as saudades que ela sentia era difícil de controlar.

Tudo era perfeito. Ele era o cara dos sonhos!

Até o momento que ela percebeu que cara dos sonhos nunca sairá dos sonhos, porque aí deixará de ser dos sonhos, até o momento que ela percebeu que talvez pudesse não se a única na vida de Pedro.

Até o momento que ela percebeu que todas as histórias eram muito bem contadas, pneu furado, celular sem carregador, todos os álibis que ele sempre apresentava.

No mundo que vivemos é impossível algo ser secreto por muito tempo, assim também foi com a vida dupla de Pedro.

E desde então, a sequencia inevitável, separação, sofrimento, saudades, indignação.

Mas ela não sofria pelo que aconteceu, sofria sim pelo que sentia falta de viver.

Sua vida com Pedro, antes de todas as verdades aparecerem.

Não queria ter descoberto o resto, mas isso era algo que somente ela sentia, ninguém mais poderia saber. Julgariam- a- na com certeza.

Se ele ainda estivesse na sua vida, seus cabelos ruivos fariam mais sentido, pois era ele quem sempre elogiava suas belas madeixas.

Se ele ainda estivesse em sua vida, talvez pagar academia valeria a pena, pois era ele quem cobrava isso dela.

Se ele ainda estivesse em sua vida, a vida teria cor, pois foi ele quem coloriu seus dias enquanto estiveram juntos.

Se ele ainda estivesse em sua vida, não haveria aquele vazio tão grande e aquela dor que insistia em permanecer.

Abrindo mais uma garrafa de vinho, com os olhos borrados, e com as lágrimas incessantes caindo, continuava seus momentos de lembrança, seus momentos de nostalgia, como queria voltar atrás.

Como queria Pedro de volta!!

Ah só ela sabia como queria!!

Abrindo seu perfil falso em uma rede social, iria atrás de alguma motivação para desistir desse desejo, olhando o perfil de Pedro com a esposa não conseguia não desejar que eles se divorciassem, olhando as fotos de Pedro com as filhas, a garrafa de vinho era o que restava...



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