sábado, 26 de janeiro de 2013

A Gordinha


Mais um ano ela comemorava, mais uns quilinhos ganharia.

Aliás nos últimos anos era o que mais ganhava...

Abrindo os presentes e de praxe ali estava, aquele objeto que tanto lhe causara desconforto e tristeza, aquele objeto que ficava no banheiro, mas bem escondidinho para que não conseguisse enxergá-lo.  Encarando-o seriamente  descartou-o na lixeira assim como todos os outros objetos similares aquele, aproveitando a deixa as revistas de dieta, seus shakes e todas as cintas foram fazer companhia para aquela maldita balança.

Por muito tempo se martirizou, por muito tempo os apelidos da época de escola atormentavam-na enquanto dormia, Boto cor de Rosa, Willy, Orca, Hipopótamo, e por aí ia. 

Por muito tempo aquilo a fez sofrer, por muito tempo aquilo a deixou triste.

Porém o que os outros não sabiam era que a tristeza deu lugar para fome e assim conseguiu acumular mais alguns 20 e poucos quilos.

Aprendeu a se amar, viu que ela, mesmo acima do peso, era muito mais inteligente do que muitas magrelas que riam dela, viu que ela com todas as suas dobras, entendia muito mais dos desejos de homens do que muitas mulheres de academia percebeu que ela mesmo gordinha arrasava na cozinha, fazia um salmão como ninguém. Soube que era muito mais engraçada e divertida do que várias modelos lindíssimas. E percebeu com tudo isso que no fim da vida todos ficaremos iguais. Com rugas, pelancas e tudo que a velhice dá direito.

Então porque viver a vida sendo controlada por uma balança?

Porque chorar a cada calça que não serve?

Porque deixar de comer tudo aquilo que gosta?

Percebeu que ela acima do peso, comendo todos aqueles potes de sorvete, conseguia ser muito mais feliz do que muitos neuróticos pelo corpo.

Percebeu que ela ria muito mais das coisas bobas porque vivia sem preocupação.

Percebeu que a vida passa rápido demais e o que ela queria, era fazer valer a pena.

E depois de todas essas percepções, abrindo mais uma lata de brigadeiro, lá ia ela, aproveitar alguns dos prazeres da vida, sem se preocupar com o amanhã. Porque o amanhã é outro dia, e quem sabe amanhã ela decida fazer uma deita por questão de saúde.

Mas hoje, hoje ainda não! Hoje o brigadeiro é o que importa...

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